Gosto de andar de comboio mas de ir para grandes cidades! Gostava tanto de viver numa cidade grande e charmosa, onde me pudesse perder todos os dias em ruas estreitas e bairros antigos, em lojas de fabrico manual, de pastas em pele e formatos insólitos, em lojas de produtos de beleza manufacturados, em praças históricas, em escadarias cinematográficas, ou em grandes avenidas económicas, "financial districts". Trabalho numa fábrica de peças automóveis e todos os dias me dirijo de comboio para uma zona industrial numa terra pequena, nem sei bem onde.

Às vezes dirijo-me para uma mais insólita, chamada Cucujães, qualquer coisa no meio da aldeia mais disparatada e velha, ridiculamente industrializada de que tenho memória. Não me encontro em nada desta rotina e no entanto é a minha. Tenho que saber esperar, ser paciente mas a questão aflitiva é o tempo, a idade. Gosto das memórias que a música às vezes traz. Tenho pena de não poder conservá-las num frasco. Se ouvimos a mesma música muitas vezes, deixamos de a associar às memórias mais antigas que nos sabem bem, e passamos a associá-la ao momento em que a ouvimos e transforma-se só numa música, e já não em memórias. Agora por exemplo estou a ouvir Black Rebel Motorcycle Club pela primeira vez desde a última que foi a primeira de todas (estes jogos de palavras são só para conservar o segredo, não são o subterfúgio habitual do embelezamento do discurso) e transporto-me para a memória fantástica e "borderline" da semana passada. Foi tão pouco tempo... Queria tanto, tanto, viver assim... Até me sinto mais bonita porque mesmo sem mais nada, ele diz-me que gosta do meu cabelo e toca nele antes de adormecermos e repara que tenho uns brincos diferentes. Olha para mim, e nem há mais nada, só uma cumplicidade próxima sem muita importância para ele mas que a mim faz sentir um bocadinho bonita e tão leve. A falta que me faz o amor...
Ontem foi uma noite especial, gosto muito daquelas pessoas. Muitas felicidades, Xe!
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